A avaliação do ciclo de vida (ACV) e a economia circular

Fonte: revistaadnormas.com.br

A ACV, em inglês Life Cycle Assessment (LCA), é um método utilizado para avaliar o impacto ambiental de bens e serviços. A análise do ciclo de vida de um produto, processo ou atividade é uma avaliação sistemática que quantifica os fluxos de energia e de materiais no ciclo de vida do produto. Já a economia circular é uma alternativa atraente que busca redefinir a noção de crescimento, com foco em benefícios para toda a sociedade.

 

ciclo de vida3Hayrton Rodrigues do Prado Filho

A ACV é uma ferramenta que pode ser usada para avaliar os possíveis impactos ambientais de um produto, material, processo ou atividade. Uma ACV é um método abrangente para avaliar uma série de impactos ambientais ao longo de todo o ciclo de vida de um sistema de produtos, desde a aquisição de materiais até a fabricação, uso e disposição final.

Os resultados do estudo de ACV ajudam a promover o projeto e o redesenho de forma sustentável de produtos e processos, levando à redução dos impactos ambientais gerais e à redução do uso e da liberação de materiais mais tóxicos. Os estudos de ACV identificam os principais materiais e processos dentro dos ciclos de vida dos produtos que provavelmente causam os maiores impactos, incluindo os impactos trabalhistas e de toxicidade pública.

Essas avaliações permitem que as empresas façam melhorias no produto por meio de escolhas ambientalmente corretas de processo, material e projeto. A Environmental Protection Agency (EPA), dos Estados Unidos), define a ACV como uma ferramenta para avaliar, de forma holística, um produto ou uma atividade durante todo seu ciclo de vida.

Para a gestão do conhecimento das empresas sobre o assunto há algumas normas técnicas publicadas. A ABNT ISO/TR 14047 de 12/2016 – Gestão ambiental – Avaliação do ciclo de vida – Exemplos ilustrativos de como aplicar a NBR ISO 14044 a situações de avaliação de impacto é um Relatório Técnico com a finalidade de fornecer exemplos para ilustrar a prática atual da avaliação de impacto do ciclo de vida de acordo com NBR ISO 14044:2009. Estes exemplos são somente uma amostra de todos os exemplos possíveis que poderiam satisfazer as disposições da NBR ISO 14044. Oferecem uma “forma” ou “formas”, em vez de uma “única forma” de aplicar a NBR ISO 14044. Refletem os elementos-chave da fase da avaliação de impacto do ciclo de vida (AICV) da ACV.

Os exemplos apresentados neste Relatório Técnico não são exclusivos e outros exemplos existem para ilustrar as questões metodológicas descritas. A maior conscientização da importância da proteção ambiental e do possível significado ambiental de um sistema de produto aumentou o interesse no desenvolvimento dos métodos para compreender melhor este significado. Uma das técnicas que estão sendo adotadas com esta finalidade é a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV).

A avaliação de impacto do ciclo de vida (AICV) é a terceira fase da avaliação do ciclo de vida e sua finalidade é avaliar resultados da análise de inventário do ciclo de vida (ICV) do sistema de produto, para compreender melhor seu significado ambiental. Os modelos de AICV selecionaram as questões ambientais chamadas categorias de impacto. Com o uso dos indicadores de categoria que ajudam a condensar e explicar os resultados de ICV, AICV fornece uma imagem das emissões agregadas ou do uso de recursos para refletir seus impactos potenciais no ambiente.

Este Relatório Técnico fornece exemplos de apoio à NBR ISO 14044:2009. Ele usa diversos exemplos em áreas-chave da NBR ISO 14044, a fim de aumentar a compreensão dos requisitos da norma. Para cada categoria de impacto uma distinção pode ser feita entre resultados de ICV, incluindo recursos (entradas) e emissões (saídas), pontos finais de categoria e variáveis intermediárias no mecanismo ambiental entre estes dois grupos (chamados às vezes “pontos intermediários”).

Ao definir as categorias de impacto, um indicador é escolhido em algum lugar no mecanismo ambiental. Frequentemente, os indicadores são escolhidos em um nível intermediário em algum lugar ao longo desse mecanismo; às vezes eles são escolhidos no nível de ponto final. Uma das tabela abaixo mostra os exemplos de variáveis intermediárias pertinentes e de pontos finais de categoria pertinentes, para algumas categorias de impacto.

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A tarefa da AICV é estabelecer uma relação entre as entradas, por exemplo, combustíveis fósseis ou minerais e saídas da fase do Inventário de Ciclo de Vida com os impactos no ambiente. Por este motivo, para cada categoria de impacto é escolhido um indicador no mecanismo ambiental, que representa, tanto quanto possível, a totalidade dos impactos na categoria de impacto. Este indicador pode, em princípio, estar situado em qualquer posição no mecanismo, desde os resultados de ICV até os indicadores de categoria.

A ABNT ISO/TR14049 de 08/2014 – Gestão ambiental – Avaliação do ciclo de vida – Exemplos ilustrativos de como aplicar a NBR ISO 14044 à definição de objetivo e escopo e à análise de inventário é um Relatório Técnico que fornece exemplos sobre práticas para a condução de uma análise de inventário do ciclo de vida (ICV) como meio de se satisfazer determinadas disposições da NBR ISO 14044:2009. Tais exemplos são somente uma amostra dos possíveis casos que satisfazem as disposições da NBR ISO 14044. Eles oferecem “uma maneira” ou “maneiras”, e não a “única maneira” de aplicação da NBR ISO 14044. Estes exemplos refletem somente partes de um estudo completo de ICV.

A ABNT ISO/TS 14071 de 05/2018 – Gestão ambiental – Avaliação do ciclo de vida – Processos de análise crítica e competências do analista: Requisitos adicionais e diretrizes para a NBR ISO 14044:2009 fornece as especificações adicionais para as NBR ISO 14040:2009 e NBR ISO 14044:2009. Disponibiliza os requisitos e as diretrizes para a realização de uma análise crítica de qualquer tipo de estudo de ACV e as competências requeridas para a análise crítica.

Com base nestes requisitos, surgiu uma prática comum de análise crítica que satisfaz as partes interessadas. Para o caso mandatório de estudos da ACV destinados a serem utilizados em afirmações comparativas para divulgação ao público, o desempenho de uma análise crítica é estabelecido como característica-chave para a aceitação do estudo pelas partes interessadas.

No entanto, mesmo na ampla gama de aplicações de ACV, para as quais uma análise crítica não é mandatória, os solicitantes do estudo de ACV atualmente decidem realizar uma análise crítica voluntária para ampliar a robustez de seus estudos e aumentar a credibilidade.

É uma das principais características da análise crítica que não se relaciona com um esquema de acreditação, mas garante a qualidade, tornando o analista individual pessoalmente responsável pelo trabalho e dando prioridade ao conteúdo e não ao formulário. Devido à crescente utilização da própria ACV, bem como à aplicação mais ampla em ferramentas como pegada de carbono ou iniciativas futuras de rotulagem, é intenção desta Especificação Técnica documentar a prática da análise crítica estabelecida de forma mais abrangente, fornecendo requisitos adicionais e diretrizes para conduzir uma análise crítica e as competências requeridas.

Pode ser aplicável a outras normas que requeiram uma análise crítica independente de procedimentos e informações baseados em ACV (por exemplo, NBR ISO 14045, NBR ISO 14025, ABNT ISO/TS 14067), mas que possam precisar ser adaptadas a campos específicos de aplicação. Outras normas de referência podem ser incluídas no processo de análise crítica. Processo de análise crítica

Assim, o (s) analista (s) deve (m) comentar o relatório preliminar de ACV e dar ao executante do estudo a oportunidade de melhorar o trabalho, caso necessário. Dependendo da natureza dos comentários, iterações adicionais de comentários, recomendações e respostas podem ser necessárias.

Convém que quaisquer alterações feitas em resposta aos comentários ou recomendações do (s) analista (s) sejam documentadas. Reuniões (por exemplo, conferências telefônicas, reuniões físicas, conferências via web) entre o executante do estudo de ACV, o solicitante do estudo de ACV e o analista podem ajudar a trocar pontos de vista e a chegar a um entendimento comum dos comentários da análise crítica e das ações adotadas sobre eles.

O relatório da análise crítica e a declaração de análise crítica devem ser concluídos com base no relatório final da ACV. É uma boa prática enviar o esboço da declaração de análise crítica ao executante do estudo de ACV e ao solicitante do estudo de ACV, para comentários editoriais a serem considerados para pequenas revisões da declaração de análise crítica.

Todas as tarefas de análise crítica são conduzidas no final do estudo de ACV, uma vez que o relatório preliminar de ACV tenha sido enviado ao (s) analista (s). Convém que pelo menos uma iteração dos comentários da análise crítica e das modificações associadas ao estudo seja conduzida e documentada no relatório da análise crítica.

O relatório da análise crítica deve documentar o processo de análise crítica completo. Além disso, e após a conclusão de todas as iterações de comentário da análise crítica, a declaração de análise crítica deve documentar o resultado final do processo de análise crítica.

Para documentar todas as questões cobertas durante o processo de análise crítica, o relatório da análise crítica deve incluir comentários e recomendações do (s) analista (s) e as respostas correspondentes dadas pelo executante do estudo de ACV. A declaração de análise crítica e as respostas correspondentes devem ser incluídas no relatório da ACV, de acordo com a NBR ISO 14044.

As respostas dadas pelo executante do estudo de ACV podem ser uma indicação de onde uma modificação foi feita, ou uma resposta ao (s) analista (s). A declaração de análise crítica pode destacar quaisquer pontos fortes, limitações e melhorias potenciais do estudo de ACV ou do processo de análise crítica.

No caso de análise crítica de dados, ensaios de amostra podem ser realizados durante o processo de análise crítica. Por conseguinte, o (s) analista (s) deve (m) indicar quais métodos de amostragem foram utilizados e deve (m) mencionar eventuais limitações da análise crítica dos dados (por exemplo, indisponibilidade de dados).

A NBR ISO 14040 de 05/2009 – Gestão ambiental – Avaliação do ciclo de vida – Princípios e estrutura descreve os princípios e a estrutura de uma avaliação de ciclo de vida (ACV). Descreve os princípios e a estrutura de uma avaliação de ciclo de vida (ACV), incluindo a definição de objetivo e escopo da ACV, a fase de análise de inventário do ciclo de vida (ICV), a fase de avaliação de impacto do ciclo de vida (AICV), as condições para o uso de escolhas de valores e de elementos opcionais, a fase de interpretação do ciclo de vida, a comunicação e a análise crítica da ACV, as limitações da ACV, a relação entre as fases da ACV.

A aplicação pretendida para os resultados da ACV ou do ICV é considerada durante a definição do objetivo e escopo, mas a aplicação em si está fora da abrangência desta norma. Ela não se destina à utilização com finalidades contratuais ou regulatórias nem para registro ou certificação.

A crescente conscientização quanto à importância da proteção ambiental e os possíveis impactos associados aos produtos(o termo inclui serviços), tanto na sua fabricação quanto no consumo, têm aumentado o interesse no desenvolvimento de métodos para melhor compreender e lidar com aqueles impactos. Uma das técnicas em desenvolvimento com esse objetivo é a avaliação do ciclo de vida (ACV).

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A ACV pode subsidiar a identificação de oportunidades para a melhoria do desempenho ambiental de produtos em diversos pontos de seus ciclos de vida, o nível de informação dos tomadores de decisão na indústria e nas organizações governamentais ou não governamentais (visando, por exemplo, ao planejamento estratégico, à definição de prioridades ou ao projeto ou reprojeto de produtos ou processos), a seleção de indicadores de desempenho ambiental relevantes, incluindo técnicas de medição, e o marketing (por exemplo, na implementação de um esquema de rotulagem ambiental, na apresentação de uma reivindicação ambiental ou na elaboração de uma declaração ambiental de produto).

Para os executantes da ACV, a NBR ISO 14044:2009 detalha os requisitos para a condução de uma Avaliação do Ciclo de Vida que enfoca os aspectos ambientais e os impactos ambientais potenciais – expressões relativas, uma vez que eles correspondem à unidade funcional de um sistema de produto. Por exemplo, o uso de recursos e as consequências de liberações para o meio ambiente ao longo de todo o ciclo de vida de um produto, desde a aquisição das matérias-primas, produção, uso, tratamento pós-uso, reciclagem até a disposição final (isto é, do berço ao túmulo).

Um estudo de ACV é composto por quatro fases: a fase de definição de objetivo e escopo, a fase de análise de inventário, a fase de avaliação de impactos e a fase de interpretação. O escopo de uma ACV, incluindo a fronteira do sistema e o nível de detalhamento, depende do objeto e do uso pretendido para o estudo. A profundidade e a abrangência da ACV podem variar consideravelmente, dependendo do objetivo do estudo em particular.

A fase de análise de inventário do ciclo de vida (ICV) é a segunda fase de uma ACV. Trata-se de um inventário dos dados de entrada/saída associados ao sistema em estudo. Essa fase envolve a coleta dos dados necessários para o alcance dos objetivos do estudo em questão.

A fase de avaliação de impacto do ciclo de vida (AICV) é a terceira fase da ACV. O objetivo da AICV é prover informações adicionais para ajudar na avaliação dos resultados do ICV de um sistema de produto, visando ao melhor entendimento de sua significância ambiental. A interpretação do ciclo de vida é a fase final do procedimento de ACV, na qual os resultados de um ICV e/ou de uma AICV, ou de ambos, são sumarizados e discutidos como base para conclusões, recomendações e tomada de decisão de acordo com a definição de objetivo e escopo.

Em alguns casos, o objetivo de uma ACV pode ser alcançado através da realização apenas de uma análise de inventário e de uma interpretação. Esse procedimento é usualmente denominado estudo de ICV. Esta norma abrange dois tipos de estudos: estudos de avaliação do ciclo de vida (estudos de ACV) e estudos de inventário do ciclo de vida (estudos de ICV). Estudos de ICV são semelhantes aos estudos de ACV, mas excluem a fase de AICV. Estudos de ICV não devem ser confundidos com a fase de análise de inventário de um estudo de ACV.

Geralmente, as informações desenvolvidas em um estudo de ACV ou ICV podem ser usadas como parte de um processo decisório muito mais abrangente. A comparação dos resultados de diferentes estudos de ACV ou ICV só é possível se os pressupostos e o contexto de cada estudo forem equivalentes. Esta norma contém, portanto, diversos requisitos e recomendações para assegurar transparência em tais questões.

A ACV é uma entre várias técnicas de gestão ambiental (por exemplo, avaliação de risco, avaliação de desempenho ambiental, auditoria ambiental e avaliação de impacto ambiental) e pode não ser a técnica mais apropriada para todas as situações. A ACV tipicamente não enfoca os aspectos econômicos ou sociais de um produto, mas a abordagem de ciclo de vida e as metodologias descritas nesta norma podem ser aplicadas a esses outros aspectos.

Esta norma não se destina a ser usada para a criação de barreiras comerciais não tarifárias nem para a ampliação ou alteração das obrigações legais de uma organização. A ACV considera todo o ciclo de vida de um produto, desde a extração e aquisição de matérias-primas, através da produção de energia e materiais, manufatura, uso, tratamento de fim de vida até a disposição final.

Com base em tal visão e perspectiva sistemáticas, a transferência de cargas ambientais potenciais entre estágios do ciclo de vida ou entre processos individuais pode ser identificada e possivelmente evitada. A ACV enfoca os aspectos e impactos ambientais de um sistema de produto. Aspectos e impactos econômicos e sociais estão, tipicamente, fora do escopo da ACV. Outras ferramentas podem ser combinadas com a ACV para avaliações mais abrangentes.

A ACV é uma abordagem relativa, estruturada em torno de uma unidade funcional. Essa unidade funcional define o que está sendo estudado. Todas as análises subsequentes são então relativas àquela unidade funcional, uma vez que todas as entradas e saídas no ICV e, consequentemente, o perfil da AICV, estão relacionados à unidade funcional.

A ACV é uma técnica iterativa. As fases individuais de uma ACV utilizam os resultados das outras fases. Essa abordagem iterativa dentro e entre as fases contribui para a completeza e consistência do estudo e dos resultados relatados.

Devido à inerente complexidade da ACV, a transparência é um princípio orientador importante na execução das ACV, de modo a assegurar uma interpretação adequada dos resultados. A ACV considera todos os atributos ou aspectos do ambiente natural, da saúde humana e dos recursos. Ao considerar todos os atributos e aspectos dentro de um estudo, em uma perspectiva que atravessa esses diferentes meios, potenciais compromissos podem ser identificados e avaliados.

As decisões em uma ACV são preferencialmente embasadas nas ciências naturais. Se isto não for possível, outras abordagens científicas (derivadas, por exemplo, das ciências econômicas e sociais) podem ser utilizadas ou pode-se ainda recorrer a convenções internacionais. Caso não exista uma base científica nem seja possível uma justificativa fundamentada em outras abordagens científicas ou convenções internacionais, as decisões podem, se apropriado, ser embasadas em escolha de valores.

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A ACV modela o ciclo de vida de um produto por meio de seu sistema de produto, que desempenha uma ou mais funções definidas. A propriedade essencial de um sistema de produto é caracterizada pela sua função e não pode ser definida somente em termos dos produtos. Os processos elementares são ligados uns aos outros por fluxos de produtos intermediários e/ou de resíduos para tratamento, a outros sistemas de produto por fluxos de produtos e ao meio ambiente por fluxos elementares.

A subdivisão de um sistema de produto nos processos elementares que o compõem facilita a identificação das entradas e saídas do sistema de produto. Em muitos casos, algumas das entradas são utilizadas como componentes do produto de saída, enquanto outras (entradas auxiliares) são utilizadas dentro de um processo elementar, mas não são parte do produto de saída.

Um processo elementar também gera outras saídas (fluxos elementares e/ou produtos) como resultado de suas atividades. O nível de detalhamento da modelagem, requerido para satisfazer o objetivo do estudo, determina as fronteiras de um processo elementar. Os fluxos elementares incluem o uso de recursos e as emissões para o ar, água e solo associados ao sistema.

A NBR ISO 14044 de 05/2009 – Gestão ambiental – Avaliação do ciclo de vida – Requisitos e orientações especifica os requisitos e provê orientações para a avaliação do ciclo de vida (ACV), incluindo a definição de objetivo e escopo da ACV, a fase de análise de inventário do ciclo de vida (ICV), a fase de avaliação de impacto do ciclo de vida (AICV), a fase de interpretação do ciclo de vida, a comunicação e a análise crítica da ACV, as limitações da ACV, a relação entre as fases da ACV, e as condições para o uso de escolha de valores e de elementos opcionais. Abrange os estudos de avaliação do ciclo de vida (ACV) e os estudos de inventário do ciclo de vida (ICV). A aplicação pretendida para os resultados da ACV ou do ICV é considerada durante a definição de objetivo e escopo, mas a aplicação em si está fora da abrangência desta norma. Não se destina à utilização com finalidades contratuais ou regulatórias nem para registro ou certificação.

O escopo de uma ACV deve especificar claramente as funções (características de desempenho) do sistema em estudo. A unidade funcional deve ser consistente com o objetivo e escopo do estudo. Um dos propósitos principais de uma unidade funcional é fornecer uma referência em relação à qual os dados de entrada e saída são normalizados (no sentido matemático). A unidade funcional, portanto, deve ser claramente definida e mensurável.

Tendo sido escolhida a unidade funcional, o fluxo de referência deve ser definido. Comparações entre sistemas devem ser feitas com base na (s) mesma (s) função (ões), quantificadas pelas mesmas unidades funcionais na forma de seus fluxos de referência. Se funções adicionais de quaisquer dos sistemas não forem levadas em consideração na comparação das unidades funcionais, tais omissões devem ser explicadas e documentadas.

Como alternativa, os sistemas associados à execução das funções não consideradas podem ser adicionados à fronteira do sistema que não as executa para tornar os sistemas mais comparáveis entre si. Nesses casos, os processos selecionados devem ser explicados e documentados. A fronteira do sistema determina quais processos elementares devem ser incluídos na ACV.

A seleção da fronteira do sistema deve ser consistente com o objetivo do estudo. Os critérios utilizados na determinação da fronteira do sistema devem ser identificados e explicados. Devem ser tomadas decisões com relação a quais processos elementares devem ser incluídos no estudo e o nível de detalhamento com que esses processos elementares devem ser estudados.

A exclusão de estágios do ciclo de vida, processos, entradas ou saídas só é permitida se isso não provocar uma mudança significativa nas conclusões gerais do estudo. Quaisquer decisões de se omitirem estágios do ciclo de vida, processos, entradas ou saídas devem ser registradas de forma clara e as razões e implicações de sua omissão devem ser explicadas.

Devem ser tomadas também decisões com relação a quais entradas e saídas devem ser incluídas e o nível de detalhamento da ACV deve ser registrado de forma clara. É útil descrever o sistema usando um fluxograma de processo que mostre os processos elementares e suas inter-relações. Convém que cada um dos processos elementares seja inicialmente descrito visando a definir o início do processo elementar, em termos da entrada de matérias-primas ou produtos intermediários, a natureza das transformações e operações que ocorrem como parte do processo elementar, e onde o processo elementar termina, em termos do destino dos produtos intermediários ou finais.

Idealmente, convém que o sistema de produto seja modelado de tal maneira que as entradas e saídas em sua fronteira sejam fluxos elementares e de produtos. A identificação das entradas e saídas que deveriam ser rastreadas ao meio ambiente, isto é, a identificação de quais processos elementares que produzem as entradas (ou processos elementares que recebem as saídas) deveriam ser incluídos no sistema de produto em estudo, é um processo iterativo.

A identificação preliminar é realizada com a utilização dos dados disponíveis. Convém que as entradas e saídas sejam identificadas de forma mais completa após a coleta de dados adicionais durante a execução do estudo e, então, submetidas a uma análise de sensibilidade.

A definição de objetivo e escopo de um estudo provê o plano inicial para a condução da fase de inventário do ciclo de vida de uma ACV. Convém que, durante a execução do plano para a análise de inventário do ciclo de vida, sejam seguidos os passos operacionais delineados na figura abaixo. Convém notar que alguns passos iterativos não são mostrados na figura.

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Os dados qualitativos e quantitativos a serem incluídos no inventário devem ser coletados para cada processo elementar incluído na fronteira do sistema. Os dados coletados, sejam eles medidos, calculados ou estimados, são utilizados para quantificar as entradas e saídas de um processo elementar.

Quando dados forem coletados de fontes disponíveis ao público, tais fontes devem ser referenciadas. O processo de coleta, a época em que foram coletados e informações adicionais sobre os respectivos indicadores de qualidade devem ser detalhados para aqueles dados que podem ser significativos para as conclusões do estudo.

Caso tais dados não atendam aos requisitos de qualidade, tal fato deve ser relatado. Para reduzir o risco de interpretação errônea (por exemplo, que resulte em dupla contagem ao se validar ou reutilizar os dados coletados), uma descrição de cada processo elementar deve ser registrada. Uma vez que a coleta de dados pode abranger vários locais de origem e referências publicadas, convém que sejam adotadas medidas para assegurar um entendimento uniforme e consistente dos sistemas de produto a serem modelados.

Enfim, no Brasil, existem muitas dificuldades da implementação da ACV, principalmente pela falta de informações relacionadas a banco de dados referentes aos aspectos e impactos ambientais e as dificuldades financeiras pelo fato de a elaboração de um estudo de ACV necessitar normalmente de muitos recursos e arrastar-se por muito tempo, além da falta de incentivos governamentais. Sua aplicação no país ainda necessita de um maior desenvolvimento, tanto na questão de esforço a ser feito quanto na experiência prática a ser adquirida para o avanço da prática.

Pode-se notar que há uma tendência de estudos voltados até a fase de análise de inventário, ou seja, do levantamento de aspectos e impactos ambientais relacionados a todo o ciclo de vida dos produtos. De forma geral, observa-se que a adoção da ACV representa uma mudança estratégica importante, que pode auxiliar tanto na gestão ambiental como no ganho de produtividade, garantindo os princípios da sustentabilidade.

Acesse um manual (em inglês) sobre a Life Cycle Assessment, clicando aqui

O manual foi feito pela European Commission – Joint Research Centre – Institute for Environment and Sustainability: International Reference Life Cycle Data System (ILCD) Handbook – General guide for Life Cycle Assessment – Detailed guidance. First edition March 2010. EUR 24708 EN. Luxembourg. Publications Office of the European Union; 2010.

Economia circular: crescimento com foco em benefícios sociais

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O modelo econômico de extrair, transformar, descartar da atualidade está atingindo seus limites físicos. A economia circular é uma alternativa atraente que busca redefinir a noção de crescimento, com foco em benefícios para toda a sociedade.

Isso envolve dissociar a atividade econômica do consumo de recursos finitos, e eliminar resíduos do sistema por princípio. Apoiada por uma transição para fontes de energia renovável, o modelo circular constrói capital econômico, natural e social.

Baseia-se em três princípios: eliminar resíduos e poluição por princípio, manter os produtos e os materiais em ciclos de uso e regenerar os sistemas naturais. Segundo a Ellen MacArthur Foundation, em uma economia circular, a atividade econômica contribui para a saúde geral do sistema. O conceito reconhece a importância de que a economia funcione em qualquer escala – para grandes e pequenos negócios, para organizações e indivíduos, globalmente e localmente.

A transição para uma economia circular não se limita a ajustes visando a reduzir os impactos negativos da economia linear. Ela representa uma mudança sistêmica que constrói resiliência em longo-prazo, gera oportunidades econômicas e de negócios, e proporciona benefícios ambientais e sociais.

O modelo faz uma distinção entre ciclos técnicos e biológicos. O consumo se dá apenas nos ciclos biológicos, onde alimentos e outros materiais de base biológica (como algodão e madeira) são projetados para retornar ao sistema através de processos como compostagem e digestão anaeróbica.

Esses ciclos regeneraram os sistemas vivos, tais como o solo, que por sua vez proporcionam recursos renováveis para a economia. Ciclos técnicos recuperam e restauram produtos, componentes e materiais através de estratégias como reuso, reparo, remanufatura ou (em última instância) reciclagem.

O modelo de economia circular sintetiza uma série de importantes escolas de pensamento, incluindo a economia de performance de Walter Stahel; a filosofia de design Cradle to Cradle de William McDonough e Michael Braungart; a ideia de biomimética articulada por Janine Benyus; a economia industrial de Reid Lifset e Thomas Graedel; o capitalismo natural de Amory e Hunter Lovins e Paul Hawkens; e a abordagem da blue economy como descrita por Gunter Pauli.

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A economia circular apoia-se em três princípios, como mostra a figura acima. O Princípio 1 fala em preservar e aprimorar o capital natural controlando estoques finitos e equilibrando os fluxos de recursos renováveis. Isso começa com a desmaterialização dos produtos e serviços – com sua entrega virtual, sempre que isso for o ideal.

Quando há necessidade de recursos, o sistema circular seleciona-os com sensatez e, sempre que possível, escolhe tecnologias e processos que utilizam recursos renováveis ou que apresentam melhor desempenho. Uma economia circular também aprimora o capital natural estimulando fluxos de nutrientes dentro do sistema e criando as condições necessárias para a regeneração, por exemplo, do solo.

O Princípio 2 explica como otimizar o rendimento de recursos fazendo circular produtos, componentes e materiais no mais alto nível de utilidade o tempo todo, tanto no ciclo técnico quanto no biológico. Isso significa projetar para a remanufatura, a renovação e a reciclagem, de modo que componentes e materiais técnicos continuem circulando e contribuindo para a economia.

Os sistemas circulares usam os menores circuitos internos (por exemplo, manutenção, em vez de reciclagem) sempre que possível, preservando, assim, mais energia e outros tipos de valor incutidos nos materiais e componentes. Esses sistemas também maximizam o número de ciclos consecutivos e/ou o tempo dedicado a cada ciclo, prolongando a vida útil dos produtos e intensificando a sua reutilização.

Por sua vez, o compartilhamento amplia a utilização dos produtos. Os sistemas circulares também estimulam a reinserção segura de nutrientes biológicos na biosfera para decomposição, de modo a transformá-los em matérias primas valiosas para um novo ciclo. No ciclo biológico, os produtos são projetados para ser consumidos ou metabolizados pela economia e regenerar novos valores nos recursos.

Para os materiais biológicos, a essência da criação de valor está na oportunidade de extrair mais valor de produtos e materiais aproveitando-os em cascata, em outras aplicações. Como em qualquer sistema linear, a busca de ganhos de produtividade em todas essas alavancas é útil e requer aprimoramentos contínuos do sistema. Mas, diferentemente do que ocorre em um sistema linear, um sistema circular não comprometeria a efetividade.

O Princípio 3 explica como estimular a efetividade do sistema revelando e excluindo as externalidades negativas desde o princípio. Isso inclui a redução de danos a sistemas e áreas como alimentos, mobilidade, habitação, educação, saúde e entretenimento, e a gestão de externalidades, como uso da terra, ar, água e poluição sonora e da liberação de substâncias tóxicas.

Ressalte-se que, embora os princípios sejam direcionados para a ação, há algumas características fundamentais que podem descrever melhor a economia circular. Por exemplo, as perdas são excluídas desde o princípio. Em uma economia circular, não há resíduos que são intencionalmente excluídos desde a concepção dos projetos.

Os materiais biológicos não são tóxicos e podem ser facilmente devolvidos ao solo, por compostagem ou digestão anaeróbia. Os materiais técnicos – polímeros, ligas e outros materiais criados pelo homem – são projetados para serem recuperados, renovados e atualizados, minimizando o volume de energia necessário e maximizando a retenção de valor (econômico e de recursos).

A diversidade faz a força na economia circular, pois valoriza a diversidade como forma de se fortalecer. Em muitos tipos de sistemas, a diversidade é um fator fundamental para a versatilidade e a resiliência. Em sistemas vivos, por exemplo, a biodiversidade é essencial para sobreviver a mudanças ambientais. De maneira semelhante, as economias precisam de equilíbrio entre negócios de vários portes para terem sucesso no longo prazo.

As grandes corporações proporcionam volume e eficiência, ao passo que os pequenos negócios oferecem modelos alternativos em épocas de crise. As fontes de energias renováveis movem a economia, pois a energia necessária para mover a economia circular deve ser renovável, em sua própria natureza, de modo a reduzir a dependência dos recursos e aumentar a resiliência dos sistemas a, por exemplo, uma crise do petróleo. Outro aspecto que reforçará isso são os limiares reduzidos de energia necessários na economia circular.

Além disso, na economia circular, o pensamento sistêmico tem ampla aplicação. Muitos elementos do mundo real, como empresas, pessoas ou plantas, fazem parte de sistemas complexos nos quais diferentes partes estão fortemente ligadas a cada uma das outras, com algumas consequências surpreendentes. Para uma transição efetiva para a economia circular, esses vínculos e consequências são levados em conta o tempo todo.

Os preços ou outros mecanismos de feedback devem refletir os custos reais. Na economia circular, os preços funcionam como mensagens e, portanto, precisam refletir todos os custos para serem efetivos. Os custos totais de externalidades negativas são revelados e levados em conta e subsídios perversos são removidos. A falta de transparência das externalidades são uma barreira à transição para a economia circular.

O fundamental seria a capacidade de compreender como as partes se influenciam mutuamente dentro de um todo e as relações do todo com as partes. Os elementos são considerados em relação ao seu contexto ambiental e social. Embora uma máquina também seja um sistema, ela está claramente delimitada a ser determinista.

O pensamento sistêmico geralmente refere-se à maioria esmagadora do sistemas do mundo real: são não-lineares, ricos em feedback (retroalimentação), e interdependentes. Em tais sistemas, imprecisas condições de partida combinadas com feedback levam a consequências muitas vezes surpreendentes, e a resultados que frequentemente não são proporcionais à entrada (feedback ‘não amortecido’ ou descontrolado).

Tais sistemas não podem ser geridos no sentido convencional, “linear”, exigindo, pelo contrário, mais flexibilidade e frequente adaptação a mudanças das circunstâncias. Para os materiais biológicos, a essência de criação de valor reside na possibilidade de extrair valor adicional de produtos e materiais em cascata através de outras aplicações.

Na decomposição biológica, seja ela natural ou em processos de fermentação controlada, o material é desintegrado em fases por micro-organismos como bactérias e fungos que extraem energia e nutrientes dos carboidratos, gorduras e proteínas encontrados no material. Por exemplo, uma árvore indo para o forno renuncia o valor que poderia ser aproveitado através das etapas de decomposição por meio de usos sucessivos da madeira e produtos madeireiros antes da degradação e eventual incineração.

O conceito de economia circular tem origens profundamente enraizadas que não podem ser ligadas a uma única data ou autor. Suas aplicações práticas para os sistemas econômicos modernos e processos industriais, no entanto, adquiriram uma nova dinâmica desde o fim da década de 1970, lideradas por um pequeno número de acadêmicos, líderes intelectuais e empresas. O conceito genérico tem sido aperfeiçoado e desenvolvido por escolas de pensamento.

O design regenerativo foi pensado nos Estados Unidos, quando John T. Lyle começou a desenvolver ideias de design regenerativo que poderiam ser aplicados para todos os sistemas, ou seja, para além da agricultura, para o qual o conceito de regeneração havia sido formulado anteriormente. Indiscutivelmente, ele estabeleceu as bases do framework de economia circular as quais foram notavelmente desenvolvidas e ganharam notoriedade graças ao Bill McDonough (que havia estudado com Lyle), Michael Braungart e Walter Stahel. Hoje, o Centro Lyle de Estudos Regenerativos oferece cursos sobre o assunto.

Walter Stahel, arquiteto e economista, em 1976 esboçou em seu relatório de pesquisa para a Comissão Europeia, “O Potencial de Substituir Mão-de-Obra por Energia”, em coautoria com Genevieve Reday, a visão de uma economia em ciclos (ou economia circular) e seu impacto na criação de emprego, competitividade econômica, redução de recursos e prevenção de desperdícios. Creditado por ter cunhado o termo “Cradle to Cradle” (Berço a Berço) no final de 1970, Stahel trabalhou no desenvolvimento de uma abordagem de “ciclo fechado” para processos de produção e criou o Product Life Institute, em Genebra há mais de 25 anos.

O químico alemão e visionário, Michael Braungart, continuou a desenvolver, em conjunto com o arquiteto americano Bill McDonough, o conceito e o processo de certificação Cradle to Cradle. Essa filosofia de projeto considera todos os materiais envolvidos nos processos industriais e comerciais para serem nutrientes, dos quais há duas principais categorias: técnicos e biológicos. O framework Cradle to Cradle é focado no design para a efetividade em termos de produtos com impacto positivo e redução dos impactos negativos da comercialização através da efetividade.

A ecologia industrial é o estudo dos fluxos de materiais e energia nos sistemas industriais. Concentrando-se em conexões entre operadores dentro do ecossistema industrial, essa abordagem visa à criação de processos de ciclo fechado nos quais os resíduos servem como insumo, eliminando assim a noção de um subproduto indesejável. A ecologia industrial adota um ponto de vista sistêmico, projetando processos de produção de acordo com as restrições ecológicas locais, enquanto observa seu impacto global desde o início, e procura moldá-los para que funcionem o mais próximo possível dos sistemas vivos.

Janine Benuys, autora de biomimética, criou uma inovação Inspirada pela natureza e define sua abordagem como uma nova disciplina que estuda as melhores ideias da natureza e então imita esses designs e processos para solucionar os problemas humanos. Estudar uma folha para inventar uma melhor célula solar é um exemplo.

Ela pensa nisso como inovação inspirada pela natureza. A biomimética se baseia em três princípios fundamentais: a natureza como modelo: estudar modelos da natureza e simular essas formas, processos, sistemas e estratégias para solucionar os problemas humanos; a natureza como medida: usar um padrão ecológico para julgar a sustentabilidade das nossas inovações; e a natureza como mentora: ver e valorar a natureza não com base no que nós podemos extrair do mundo natural, mas no que podemos aprender com ele.

Iniciado pelo ex diretor da Ecover e empresário belga Gunter Pauli, a Blue Economy é um movimento open source, que reúne os estudos de casos concretos, inicialmente compilados em um relatório homônimo e entregue ao Clube de Roma. Como afirma o manifesto oficial, usando os recursos disponíveis em sistemas em cascateamento (…) os resíduos de um produto se tornam insumos para criar um novo fluxo de caixa. Baseado em 21 princípios base, a Blue Economy insiste em soluções determinadas por seu ambiente local e suas características físicas/ecológicas, colocando a ênfase na gravidade como a fonte primária de energia.

O relatório, que se desdobra como o manifesto do movimento, descreve 100 inovações que podem criar 100 milhões de empregos nos próximos dez anos, e oferece muitos exemplos de projetos de sucesso de cooperação “Sul-Sul” – uma outra característica original desta abordagem que tem a intenção de promover seu foco prático.

A Ellen MacArthur Foundation identificou alguns blocos que podem ajudar a estimular uma economia mais circular. Por exemplo, o design de produtos e produção circulares que seria uma característica essencial da economia circular, pois ela deve ser restaurativa e regenerativa por natureza. A recuperação de materiais e produtos não é tratada só no fim de vida, mas é contemplada desde o design, por exemplo, na escolha de materiais ou com um design para a desmontagem.

As empresas precisarão desenvolver competências centrais em design circular para facilitar a reutilização, a reciclagem e o aproveitamento em cascata dos produtos. O design de um produto (e um processo) circular requer habilidades avançadas, conjuntos de informações e métodos de trabalho que não estão prontamente disponíveis hoje.

A ciência dos materiais e sua seleção desempenharão um papel crítico no projeto de produtos. Os fabricantes devem especificar a finalidade e o desempenho dos produtos finais, não se limitando aos insumos materiais. Também devem favorecer, em seu processo de produção, os materiais puros, que oferecem mais facilidade de classificação no fim da vida dos produtos.

Além da seleção de materiais, também são importantes em um design circular economicamente bem-sucedido o uso de componentes padronizados, produtos projetados para durar, facilidade de classificação, separação ou reutilização de produtos e materiais no fim da vida dos itens e critérios de fabricação que levem em conta possíveis aplicações úteis de subprodutos e resíduos Os modelos de negócio da economia circular também devem ser considerados no design de produtos. Por fim, é necessário desenvolver mecanismos de feedback entre o design e as atividades de fim da vida útil dos produtos.

Necessita-se pensar em novos modelos de negócio que substituam a propriedade por pagamentos com base no desempenho, que são fundamentais na tradução de produtos projetados para reutilização em propostas de valor atraentes. Priorizando o acesso em vez da propriedade, esses modelos orientam a transformação de consumidores em usuários.

As empresas com participação de mercado significativa e competências em diversas etapas verticais da cadeia de valor linear podem ter um papel muito importante na promoção e popularização da circularidade, aproveitando sua escala e integração vertical. Embora muitos novos modelos, os materiais e produtos venham a ser introduzidos por empreendedores, as marcas líderes e mais volumosas também têm uma função crítica a desempenhar. Modelos de negócio e iniciativas lucrativos inspirarão outros agentes e serão copiados e expandidos geograficamente.

Definido como ciclo reverso que é uma estrutura de materiais que preserva o valor, o que é um requisito essencial na transição para a economia circular. Para criar valor a partir de materiais e produtos usados, é necessário coletá-los e devolvê-los a sua origem. A logística reversa e os métodos de tratamento possibilitam o retorno desses materiais ao mercado.

Eles certamente incluirão logística da cadeia de entrega, classificação, armazenamento, gestão de risco, geração de energia e até biologia molecular e química de polímeros. Com sistemas de coleta e tratamento eficientes do ponto de vista do custo e qualidade, além da segmentação eficaz de produtos usados, a saída de materiais do sistema se reduzirá, viabilizando o benefício econômico do design circular.

As cadeias de logística reversa para o aproveitamento em cascata de materiais, em outras aplicações, precisarão ser otimizadas do início ao fim. É fundamental, portanto, desenvolver competências e infraestrutura para avançar para uma maior circularidade.

Os sistemas de coleta devem ser fáceis de usar, localizar-se em áreas acessíveis aos consumidores e a especialistas em produtos em fim de vida útil e capazes de manter a qualidade dos materiais para garantir seu aproveitamento em cascata, em diversas aplicações. As aplicações em cascatas sequenciais devem resultar na otimização do aproveitamento de nutrientes e recuperação do valor antes de sua devolução final ao solo.

Não se deve esquecer os fatores viabilizadores e condições sistêmicas favoráveis para a economia circular. Embora as empresas possam promover todos os blocos, algumas condições viabilizadoras podem contribuir muito para a transição. A educação pode desempenhar um papel importante na preparação dos futuros profissionais para um novo paradigma econômico, particularmente na criação de uma base de habilidades para promover a inovação circular. Os governos devem estimular a integração da economia circular e do pensamento sistêmico nos programas de ensino de nível fundamental, médio e superior.

Todos os agentes da cadeia de valor precisarão ter acesso a ferramentas de financiamento e gestão de risco para apoiá-los em investimentos de capital e Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Um ambiente regulatório estável é um ponto crucial para os investidores e pode representar um incentivo especial se os governos declararem a intenção de promover a transição para a economia circular. Os governos podem criar mais estímulos ao financiamento subscrevendo alguns dos riscos associados a modelos de negócio inovadores.

A colaboração efetiva entre as cadeias de valor e setores é imperativa para o estabelecimento de um sistema circular de larga escala. Parcerias no desenvolvimento de produtos, transparência e compartilhamento de informações possibilitados pela Tecnologia da Informação (TI), sistemas de coleta compartilhados, padrões setoriais, incentivos alinhados e mecanismos de identificação de possíveis parceiros podem ser disponibilizados em plataformas colaborativas entre setores inteiros e entre empresas e formuladores de políticas.

Por fim, uma nova estrutura econômica. Mudanças de maior alcance no sistema fiscal atual e nas métricas do desempenho econômico podem ajudar a viabilizar uma transição sistêmica para a economia circular. O deslocamento de incentivos fiscais dos recursos para a mão de obra, complementando as métricas atuais fundamentadas em fluxo, como o PIB, com métricas para medir o estoque total de ativos de um país, e a definição de um plano de longo prazo para reequilibrar custos de fatores e precificar adequadamente as principais externalidades são instrumentos que os formuladores de políticas podem usar para desenvolver uma nova estrutura econômica de apoio à transição para a economia circular.

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